Não é só uma bexiga caída!
“Distopia acontece quando um órgão se desloca do local que deveria ficar para um novo local, sendo o prolapso dos órgãos pélvicos da mulher um exemplo. O prolapso é a exteriorização da bexiga, útero (ou fundo vaginal em caso de histerectomia – retirada do útero) ou reto, através da vagina. Como discutido em post anterior, o posicionamento desses órgãos é garantido por diversos ligamentos e pelos músculos do assoalho pélvico, e alterações nessas estruturas irão possibilitar os prolapsos dos órgãos pélvicos.
Quando falamos cistocele (bexiga caída), estamos nos referindo ao que acontece quando a bexiga começa a sair de seu posicionamento original, empurrando a parede anterior da vagina em direção póstero-inferior (para trás e para baixo), como mostrado na seta 1 da imagem.
Quando falamos em histerocele (útero caído), estamos nos referindo ao que acontece quando o útero (ou fundo vaginal em caso de histerectomia) começa a sair de seu posicionamento original, e desce pelo canal vaginal, como mostrado na seta 2 da imagem.
Uma coisa que poucas pessoas conhecem é retocele, termo usado para se referir ao prolapso que acontece quando o reto começa a sair de seu posicionamento original, empurrando a parede posterior da vagina em direção ântero-inferior (para frente e para baixo), como mostrado na seta 3 da imagem.
Existe uma classificação para os vários estágios que os prolapsos podem estar, desde 0 (ausência de prolapso) até 4 (prolapso está a 2 cm ou mais para fora do canal vaginal).
O tratamento dos prolapsos deve envolver uma equipe multidisciplinar com o objetivo de:
- Restaurar a anatomia;
- Corrigir defeitos específicos;
- Manter ou restaurar a função normal do sistema urinário e gastrointestinal;
- Manter a capacidade vaginal para o ato sexual.
O tratamento cirúrgico varia conforme as condições da mulher, tipo e estágio de prolapso, portanto será discutido em outro momento com mais detalhes. Outra opção de tratamento é o conservador, com uso de pessários, no tratamento médico, e a fisioterapia. Os pessários são dispositivos de silicone de uso intravaginal (dentro da vagina) disponíveis em vários modelos, seu uso depende de retornos ao profissional responsável para constante verificação de irritação ou lesão da parede vaginal em contato com o dispositivo, alterações na integridade do material além de analisar a atual eficácia daquele modelo, não sendo incomum a troca do modelo.
O carro chefe da fisioterapia para tratamento dos prolapsos genitais é o treinamento da musculatura do assoalho pélvico, com eficácia comprovada em mulheres com prolapsos até estágio 2, retardando ou até evitando a cirurgia, melhorando sintomas relacionados ao prolapso e prevenindo que ele se torne mais grave." (Adaptado do livro Tratado de fisioterapia em saúde da mulher de 2011 e de Urofisioterapia de 2014)